É proibido comer sangue?

A proibição de comer sangue, praticada por algumas igrejas evangélicas, pretende basear-se em textos do Antigo Testamento, e, de forma especial, no texto de At 15.20, do Novo Testamento.
Este capítulo do Livro de Atos dos Apóstolos trata da controvérsia surgida na primitiva Igreja Cristã, sobre a circuncisão dos gentios. Os cristãos judeus, ou seja, judeus que se converteram ao cristianismo, queriam impor aos cristãos gentílicos, que são gentios convertidos ao cristianismo, a Lei de Moisés que ordenava a circuncisão. Após exame criterioso da questão, e após grande debate (cf. At 15.6, 7), os apóstolos reunidos nesse que foi o Primeiro Concílio Geral da Igreja Cristã, chegaram ao seguinte acordo:
Os cristãos gentílicos ficariam isentos (desobrigados) da circuncisão que os cristãos judeus insistiam em praticar. Mas, em compensação, os cristãos gentílicos deveriam se abster de comer sangue, para não escandalizar os cristãos judeus que ainda estavam arraigados nos costumes da religião judaica, da qual tinha vindo (Cf. At 15).
Vista sob este aspecto, a determinação do Novo Testamento de que os cristãos gentílicos se abstivessem de comer sangue, é uma medida de amor antes de ser uma Lei restritiva. Os cristãos gentílicos não deveriam comer sangue para não escandalizar os cristãos judeus, que eram seus irmãos na fé.
Assim também nós temos a recomendação de não praticar atos que escandalizem irmãos fracos na fé, ainda que esses atos, em si mesmos, não sejam pecaminosos. Por amor aos irmãos mais fracos, nós, num gesto de amor, nos abstemos de atitudes que possam comprometer a fé desses irmãos mais fracos, enquanto eles não forem aptos para entender nossos atos.
Comer sangue não é pecado em si mesmo, mas pode se constituir em atitude de falta de amor ao irmão na fé. Isto acontece quando o comer sangue escandaliza os cristãos que ainda não compreendem tal atitude. Neste caso, a falta de amor, e não o comer sangue, será pecado.
Resta a pergunta: Até quando devemos nos abster de praticar um ato não pecaminoso em si mesmo, por amor a cristãos mais fracos na fé? Respondemos: Até que tenhamos instruído esse irmão na fé, e mostrado a ele que o determinado ato não é pecaminoso. Por exemplo: Quando tivermos mostrado que comer sangue não é ato pecaminoso, e o irmão considerado fraco se deixa convencer, podemos agir com liberdade em relação a ele. Se ele não se convencer, pode-se tratar de um cristão obstinado e, nesse caso, também podemos nos sentir livres diante dele, sendo que o nosso ato lhe servirá, nesse caso, de testemunho.
Paulo Kerte Jung, pastor